Na Penha, zona norte do Rio de Janeiro, a Paróquia Bom Jesus da Penha tornou-se um refúgio para fiéis em busca de consolo e esperança neste Dia de Finados. As orações se intensificaram em solidariedade aos familiares das 121 vítimas da Operação Contenção, realizada na última terça-feira (28) em favelas vizinhas, considerada a mais letal da história da cidade.
O padre Marcos Vinícius Aleixo, responsável pela celebração da missa neste domingo (2), relatou o clima de medo que paira sobre a comunidade. Segundo ele, a frequência nas missas diminuiu devido à insegurança. “A insegurança reina no bairro por conta disso. Muitas pessoas ficam com medo de sair de casa, com medo de vir até a missa”, afirmou.
O pároco destacou ainda os traumas causados pela violência. “O tiro, o barulho, isso tudo traz traumas, traz crise de ansiedade, traz medo às pessoas que lá dentro moram, que são pessoas de bem e que estão ali lutando para viver, muitas vezes, porque não tem outra oportunidade de sair dali, mas são pessoas de bem, são pessoas que honestamente trabalham e têm a sua vivência diária”, lamentou o padre Marcos Vinícius Aleixo.
A igreja está localizada a apenas um quilômetro da Praça São Lucas, onde foram reunidos os corpos encontrados em uma área de mata entre os complexos do Alemão e da Penha, após a operação policial. A Secretaria de Pública do Rio de Janeiro divulgou que, das 121 vítimas, quatro eram policiais e 117 eram civis. A ação policial visava cumprir 100 mandados de prisão e 180 de busca e apreensão contra membros do Comando Vermelho.
Uma moradora do bairro, sob anonimato, descreveu a sensação de estar encurralada entre o crime organizado e as operações policiais. “A gente não tem sossego. [A operação] Afeta. Claro que afeta, principalmente porque você tá encurralada”, desabafou. Ela relatou dificuldades em seu cotidiano, inclusive para se locomover devido ao controle do crime organizado nas ruas. “Atrapalha até as ruas, as pessoas não podem passar. Ficam cobrando até pedágio. Isso não existe, gente”, disse. “É tranquilidade que eu cobro. A minha cobrança é essa. Porque a gente não tem mais paz, não tem sossego. Você vai pedir um Uber, o Uber não quer entrar aqui porque está na Penha. Olha que absurdo”.
A operação policial tem sido alvo de críticas por parte de organizações nacionais e internacionais, incluindo o Conselho de Direitos Humanos da ONU, que pedem investigações independentes. Familiares das vítimas alegam ter encontrado sinais de tortura nos corpos e afirmam que seus parentes tentaram se render. Em contrapartida, o governo do estado garante que os que se entregaram foram presos e que os mortos entraram em confronto com os agentes.
Um morador, que preferiu não se identificar, expressou um sentimento ambíguo em relação à operação. “O Rio de Janeiro todo está meio largado em questão de segurança. Isso [a operação], de uma certa forma, acaba trazendo uma sensação de que estão fazendo algo, né? Porque são dois lados. Ninguém é bonzinho”, ponderou.
Outra moradora, presente no Complexo da Penha durante a operação, descreveu o dia como “de horror” e duvida que a operação policial traga mudanças significativas para a comunidade. “Foi muito ruim para nós, porque impactou a vida de muita gente, dos moradores, das crianças, foi muito tiroteio. E isso é ruim para quem não tem envolvimento com nada, pra gente que é morador, pessoas de bem”. Questionada se acredita em alguma mudança após a operação policial, ela respondeu enfaticamente: “Nada”.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br





Deixe um comentário