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Catedral da sé lotada rememora os 50 anos do assassinato de herzog

© Paulo Pinto/Agência Brasil

Uma cerimônia ecumênica lotou a Catedral da Sé, em São Paulo, marcando os 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog pela ditadura militar. O evento, promovido pela Comissão Arns e pelo Instituto Vladimir Herzog, ocorreu no mesmo local onde, em 1975, uma cerimônia inter-religiosa reuniu cerca de 8 mil pessoas em protesto contra o regime.

Ivo Herzog, filho de Vladimir, presente no ato, expressou a esperança de que um processo legal seja instaurado para apurar as responsabilidades pelos crimes da ditadura. Ele enfatizou a necessidade de investigar as circunstâncias dos crimes, indiciar os autores (vivos ou mortos) e realizar o julgamento pelo Poder Judiciário.

Ivo também ressaltou que a revisão do parecer do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à Lei da Anistia de 1979 é uma luta da sociedade. Ele mencionou a ADPF 320, que trata sobre a anistia, e que está sob a análise do ministro Dias Toffoli há mais de oito anos.

Segundo Ivo, o atraso na decisão sobre a ADPF 320 representa uma cumplicidade com a cultura de impunidade. O Instituto Vladimir Herzog, atuando como amicus curiae na ADPF desde 2021, argumenta que a interpretação atual da Lei de Anistia garante a impunidade dos crimes de lesa-humanidade cometidos por agentes da ditadura militar, o que está em desacordo com tratados internacionais de direitos humanos.

Ivo afirmou que o tema da anistia tem sido apropriado pela extrema-direita, argumentando que a anistia de 1979 é uma aberração, pois o regime autoritário nunca reconheceu seus crimes.

O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, também participou da cerimônia. Ele declarou que a morte de Vladimir Herzog foi resultado do extremismo do Estado, que perseguia e matava cidadãos. Alckmin defendeu o fortalecimento da democracia, da justiça e da liberdade. Questionado sobre a revisão da Lei da Anistia, ele respondeu que “já demos bons passos nessa questão”.

Ivo Herzog destacou que a presença de Alckmin reafirma o compromisso do Estado com a democracia, contrastando com o clima de medo e repressão que existia há 50 anos, quando a primeira manifestação na Catedral da Sé reuniu milhares de pessoas em protesto contra a morte de seu pai.

Vladimir Herzog foi torturado e morto nas dependências do Doi-Codi, órgão de repressão da ditadura militar, onde havia sido preso sem ordem judicial. Na época, era diretor de Jornalismo da TV Cultura e apresentou-se voluntariamente ao órgão de repressão na manhã de 25 de outubro de 1975.

O jornalista Sérgio Gomes, que estava preso no Doi-Codi na época do assassinato de Herzog, relatou ter ouvido torturas e a pergunta “quem são os jornalistas?”. Ele descreveu o silêncio que se seguiu, o remanejamento das pessoas e a simulação do suicídio.

Desde a morte de Herzog, sua esposa, Clarice Herzog, tem denunciado o assassinato político do marido. No dia 31 de outubro de 1975, foi realizado um ato na Catedral da Sé, liderado por líderes religiosos como Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o reverendo Jaime Wright, com o apoio do jornalista Audálio Dantas, que marcou a resistência democrática.

Na tarde de ontem, jornalistas fizeram uma passeata desde a sede do sindicato da categoria em São Paulo até a Sé para participar do evento na catedral.

Thiago Tanji, presidente do sindicato dos jornalistas, destacou a importância de lembrar que os responsáveis pela tortura e morte de Vladimir Herzog não foram condenados nem investigados, e que a luta contra a impunidade continua no presente.

Diversas pessoas que estiveram no primeiro ato e voltaram para a catedral 50 anos depois foram aplaudidas de pé.

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

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