Famílias de vítimas da Operação Contenção, realizada nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, começaram a deixar o Instituto Médico Legal (IML) com os corpos de seus entes queridos. A Polícia Civil havia informado que restavam apenas oito corpos para serem identificados até ontem.
O sentimento entre os familiares é de alívio pelo encerramento da busca, mas também de profunda indignação diante da tragédia. Karine Beatriz, grávida, esteve no IML para reconhecer o corpo de seu esposo, Wagner Nunes Santana, pai de seu futuro bebê, após três dias de procura. Ela relatou que ele foi encontrado em um lago na Serra da Misericórdia, na Penha, na última sexta-feira.
“Após três dias de buscas consegui localizar o corpo, mas alívio eu só vou ter com repostas para as perguntar que não vão calar: de onde vem pena de morte, se existe presídio, presídio é apenas enfeite? Até quando vai isso?”, questionou Karine, referindo-se à alta letalidade das operações policiais no Rio. “Temos crianças assustadas, uma comunidade abalada, é muita dor”, desabafou.
Karine ressaltou que, independentemente de qualquer envolvimento de Wagner com o crime, ele era um pai de família, trabalhador e responsável pelo sustento de sua casa. “Independente dos erros dele, ele era trabalhador, era família, semana passada, estava ajudando a erguer uma casa na comunidade, ajudou a fazer o ‘cabelo maluco’ da minha filha. Tenho uma filha de 9 anos, que não era filha dele e ele fez o cabelo dela para escola, levou para brincar, sabe, são momentos que não vão voltar”, explicou.
Segundo Karine, o corpo de Wagner foi retirado do lago com um tiro na testa. A polícia ainda não esclareceu as circunstâncias de sua morte. Ela também denunciou possíveis execuções durante a operação. “Eles não vieram prender ninguém, eles foram para matar. É até mesmo quem se entregou, eles mataram. Eu procurei, desde o primeiro dia, eu procurei um por um. Não sei o que fizeram, mas enterro vai ter de ser caixão fechado”, relatou.
De acordo com o balanço mais recente da Operação Contenção, divulgado na sexta-feira, 99 pessoas foram identificadas pelo IML. Desse total, 42 possuíam mandados de prisão pendentes e 78 tinham algum tipo de envolvimento com o crime. Treze das vítimas eram de outros estados, incluindo Pará, Bahia, Amazonas, Ceará, Paraíba e Espírito Santo.
O governo do estado justificou a operação como uma medida para conter a expansão do Comando Vermelho, embora não tenha conseguido prender os principais líderes da facção. De acordo com nota divulgada à imprensa, as investigações indicavam que membros do grupo criminoso recebiam treinamento em armamento, tiro, uso de explosivos e táticas de combate nas áreas visadas.
As investigações também revelaram que o fluxo de caixa da facção nessas áreas movimentava cerca de 10 toneladas de drogas por mês. “Tanto o Alemão quanto a Penha serviam como polos de abastecimento, distribuindo drogas e armas para outras comunidades controladas pelo grupo criminoso”.
Apesar das críticas sobre a eficácia e os custos da operação para a cidade, que teve suas atividades paralisadas na terça-feira, e da alta letalidade, o governador Cláudio Castro defendeu a ação. “Tendo em vista estes resultados, a gente vê que o trabalho de investigação e inteligência foi adequado, todos perigosos e com ficha criminal. Também, pela identificação das origens desses ‘narcoterroristas’, reforço a importância da integração com os estados. Em breve, vamos entregar os relatórios completos para as autoridades competentes”, disse o governador.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br



















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